18 de fevereiro de 2011

Erliquiose ou doença do carrapato

 

 

 erlichiose

http://www.mariafillo.org/bau_da_fillopag06a.htm

Muitos de nós tememos ou já tivemos que passar pelo tratamento de um animal com Erlichiose, ou melhor, Doença do Carrapato. Eu mesma sou uma que estou lutando contra essa maldita.

Essa é uma doença bastante “comum” principalmente nas regiões tropicais e subtropicais como aqui no Brasil .¹ É bem verdade também que está bastante banalizada e falsamente diagnosticada por profissionais que por preguiça, ou qualquer outro motivo que não me vem na mente, diagnosticam um animal sem provas suficientes como portador da Erlichiose.

Porém o que muitos veterinários parecem não saber é que a Erliquiose pode ser ter semelhanças clínicas com outras doenças como Trombocitopenia auto-imune, lupus eritrematoso, leucemia, Coagulação intra-vascular disseminada, neoplasia esplênica, e esplenite sendo assim de suma importância exames complementares para o devido diagnóstico de erlichia.

Como é que meu animal pega a Doença do Carrapato?

Um carrapato contaminado normalmente da espécie Rhipicephalus sanguineus com a Erlichia canis transmite ao seu animal a Erlichia ao sugar o sangue dele. Sua saliva torna-se potencialmente transmissora da erlichia que ele alberga.(3)

O Carrapato responsável pela erliquiose canina (Rhipicephalus sanguineus) gosta de se esconder em tocas, ninhos e até em esconderijos em canis.Ele habita ambientes urbanos. (6)

carr20

http://www.icb.usp.br/~marcelcp/Rhipicephalus.htm

Mas, e a erlichia? O que é? Ela é uma bactéria intracular obrigatória (ou seja, só sobrevive dentro de células) que prefere as células eucarióticas como os leucócitos, plaquetas, neutrófilos e monócitos .(1,2,3,4)

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Erlichia dentro de linfócitos

http://patclinveterinaria.blogspot.com/2010/09/ehrlichiose-canina.html

O animal também pode ser parasitado pela erlichia ainda dentro da barriga de sua mãe. Se essa por sua vez estiver infectada, junto com as inúmeras trocas que ocorrem entre mãe-filho pela placenta e vasos endoteliais, a erlichia irá também ser transmitida aos descendentes². Além dos filhotes poderem “pegar” a “doença do carrapato através da mãe”, eles podem não ter essa “sorte” e morrerem precocemente ou nascerem malformados.(2)

Isso acontece porque como a hemoglobina é a célula responsável pelo transporte de oxigênio, e a erlichia age causando hemólise (ou seja, quebrada da hemoglobina) o corpo da cadela fica mal oxigenado e consequentemente seus filhotes também. Tudo isso é importante para se mostrar a importância de todo um acompanhamento antes, durante e após a gestação. (Posse responsável em primeiro lugar sempre)(2)

A erlichia não afeta apenas os cães,eles  podem ser importantes fatores de zoonose transmitido também para os humanos. Na América do Norte, ainda se tem a erliquiose humana que é transmitida pela Erlichia chaffensis. No Brasil as doenças transmitidas por carrapatos a humanos não tem significância suficiente na Saúde Pública humana.( 4)

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http://dogsfofuxos.blogspot.com/2009/11/cuidados-com-o-seu-cachorro-carrapatos.html

Os animais silvestres, gatos, cavalos e bois também podem ser afetados por essa doença.

Sintomas:

O animal pode apresentar  três formas da doença: a aguda, a subclínica e a crônica.

A aguda caracteriza-se por anemia, febre, emagrecimento, depressão, anorexia.¹ É a fase que a erlichia ainda pode ser diagnosticada através de esfragaços sanguíneos retirando gotas de sangue da orelha do cão.

Normalmente esses  sintomas começam a aparecer 10 a 14 dias depois da infecção.

A diminuição das plaquetas é um achado em 100% dos animais infectados² devido à característica da erlichia em causar destruição das células sanguíneas (hemólise). Com isso podem acontecer pequenas hemorragias pelo corpo. Alguns animais apresentam petéquias pelo corpo e sangramento nas mucosas. (5)

Porém, os sintomas não são apenas febre, devido à sua ação a erlichia também pode afetar os olhos dos cães causando opacidade da córnea e uveíte.(5)

Da fase aguda, o animal pode-se curar totalmente ou evoluir para a frase crônica.

A fase subclínica é caracterizada pela falta de sintomas clínicos¹; Os animais da fase subclínica (ou assintomático) podem se curar sozinhos da doença  ou passar pra fase crônica. Essa fase subclínica pode durar até de meses até 4 a 5 anos².

Na fase subclínica, o animal pode apresentar elevados títulos de anticorpos contra a erlichia, mas mesmo assim ser assintomático.³ É o que está acontecendo com o meu Pepe. Nenhum sinal e as plaquetas um pouco abaixadas, mas a titulação dele está altíssima.

Além dessas duas fases, o animal também pode ter a fase crônica que advém da fase aguda² e  aparece normalmente 1 a 4 meses após a picada do carrapato sendo caracterizada por aumento de baço, perda de peso, sinais neurológicos, diminuição das plaquetas e leucócitos.¹ A fase crônica é a última das etapas da erlichiose podendo ser tão severa que leva o animal a óbito.

Nessa fase, as plaquetas estão bem abaixo do normal, os animais apresentam-se caquéticos, apáticos e com susceptibilidade a infecções secundárias por sua imunidade estar muito baixa². e normalmente é necessário entrar com transplante sanguíneo para o animal conseguir ter forças para lutar contra o agente. Os animais podem também apresentar devido à baixa muito grande das plaquetas sangramentos na pele, olhos, nariz e mucosas. Além de diarréias sanguinolentas que são chamadas de melena.

No leucograma(avaliação laboratorial das células de defesa) também pode ser notado uma baixa dos leucócitos.¹

Além desses sintomas, o animal também pode apresentar aumento do fígado(hepatomegalia), aumento do baço (esplenomegalia), linfadenomegalia, distúrbios cardíacos e respiratórios, nervosos e oftalmológicos. ²

Diagnóstico:

O diagnóstico é feito através de avaliação clínica do animal e da avaliação do hemograma e leucograma do mesmo.

Se o animal estiver na fase aguda, pode-se fazer um esfregaço sanguíneo retirando uma gota de sangue da orelha do animal onde irão se encontrar mórulas de erlichia na pesquisa pelo microscópio(5).

A detecção dos anticorpos para Erlichia Canis através da técnica de imunofluorescência indireta de anticorpos também um dos aliados na hora de diagnosticar seu animalzinho.

O método de ELISA normalmente é utilizado em animais na fase subclínica e crônica devido à pouca “quantidade” de mórulas de Erlichia no sangue.

Além dessas técnicas, ainda temos o PCR que é a detecção do DNA da erlichia no animal. A técnica de PCR é bastante específica e é encontrada nos animais desde os primeiros dias de infecção, desde que seja feita de uma forma correta. (5)

 

Tratamento

O animal é tratado com um antibiótico que tem duração no animal de 10 a 12 horas sendo portanto necessária a administração duas vezes por dia (12 em 12 horas) e o demais tratamento deverá ser de suporte, para anemia, hemorragias, desidratação, etc.

O tratamento dura de 21 a 28 dias initerruptos.

 

Prevenção

A melhor forma de prevenir é evitar que seu cão seja picado pelo carrapato. Infelizmente, a maioria dos produtos anti-carrapaticidas do mercado tem a necessidade de que o animal seja picado. Surgiu agora um prac-tic da novartis que promete matar o carrapato por contato na maioria das vezes, e a meu ver, é um aliado contra a Erliquiose.

Packshot-final-ALTA

http://guiauniversopet.com.br/2011/02/08/novartis-saude-animal-lanca-novo-medicamento-contra-pulgas-e-carrapatos/

Além disso, o tratamento do ambiente é muito importante. Eu particularmente sou fã do MyPet pois foi o único que deu jeito na última infestação que tive aqui em casa.

 

 

 

Referências

1. DIAS, Gabriela Cristina Gibrin, TIEPO, Juliana Franzé. Erlichiose Canina. Universidade Castelo Branco. São José do Rio Preto, novembro,2008.

2. MELO, Renata Gabriela Ambrosina Silva de Melo, et.al., Erlichiose como um fator agravante  da gestação.

3.MENESES, Íris Daniela Santos de, et.al. Perfil clínico Laboratorial da erlichiose monocítica canina em cães de Salvador e região metropolitana, Bahia. Revista Brasileira Saúde Prod. Animal, v.9, n.4, p. 770-776, out/dez 2008.

4. PACHECO, Richard Campos. Zoonoses transmitidas por carrapatos. setembro,2008. Guarapiri, ES.

5. SOUSA, Valéria Regina Franco, et. al. Avaliação clínico molecular de cães com erlichiose. Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n. 6, p. 1309-1313, jun 2010.

9 comentários:

  1. Oi, tia Aline. Como cão beagle, sou inteligente e me interessei por esse assunto. Aqui no sítio tem muito carrapato e eu sofro com eles. Mãe Nina tem usado uns remédios, uns tais de Program e Revolution, mas continuo pegando carrapato. É que sou muito arteiro e vou nos lugares onde têm as cabras, as vacas, e até onde estão as capivaras. E também costumo passear no sítio vizinho, que tem cavalos. Aí, me ocorreu uma coisa. Aqui na minha região, cidade de Itatiba, próxima a Campinas/SP, andaram ocorrendo alguns casos de febre maculata, transmitida por carrapatos que, aparentemente, seriam vetores dessa doença proveniente de capivaras contaminadas. Nós, cães, também poderíamos estar sujeitos a ela?
    Uma lambida bem carinhosa no seu coração.

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  2. oi ed! sobre a doença, a aline vem te responder depois....
    mas sobre os carrapatos, eu também tenho cães em sítio e faço o seguinte: todo o mês aplico 1 pipeta neles, cada mês uma marca diferente com ativos diferentes. todo mês religiosamente, sempre no mesmo dia. mesmo assim já aconteceu de achar 1 carrapato, então verifico eles todos os dias! a escovação ajuda também...
    outra solução são as coleiras que são para carrapatos, pulgas e mosquitos. mas meu vet não gosta especialmente pq meus cães vivem dentro d'água.
    espero ter ajudado!!

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  3. Aline, meus parabéns!
    Super texto, super post!!
    Perdi um rottie, o Remo, por erro médico veterinário, só fui saber sobre o tema quando vivi o problema. Foi terrível!!
    Sempre utilizei produtos para evitar parasitas, isso que não entendo.
    Obrigada pelas informações, bjks Cecília.

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  4. Queridos, otimo texto, muito esclarecedor.
    Sou dona de uma shih tzu q acaba de ter ninhada de sete filhotes. Ela ja teve doença do carraparo, tratou, foi curada e esta otima! Entretanto uma filhotinha, agora com 52 dias tem apresentado a gengiva um pouco esbranquiçada demais, as fezes vez e outra mais pastosas (mas ainda no formato normal), ha dias em q nao se alimenta muito, nos demais esta bem ativa, feliz e esperta. Ja fez exame de sangue e nao deu nada. Sera possivel q essa doenca tenha ficado no sangue da mae e passado para a ninhada? E nos filhotes, ela pode se esconder e nao aparecer no exame? Como ter segurança no diagnostico, recomendam algum exame especifico q abranja qualquer fase da doenca?
    Desde ja, muito obrigada, Karina

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  5. a mãe pode sim ter passado aos filhotes. se no exame de sangue nao deu nadaa é pq provavelmente nao deve se preocupar. Mas converse com seu vet. Ele com certeza saberá o que fazer. ;) Boa sorte

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  6. Olá Aline e Luciana, primeiramente parabéns pela iniciativa de compartilhar várias informações necessárias para não que adoramos nossos animais de estimação.
    Bom, meu nome é Heraldo e resido em Poços de Caldas MG. Numa medida desesperada de tentar salvar meu cão, encontrei este site e estou em busca de toda e qualquer informação. Em junho meu cão pastor de 5 anos começou a perder o apetite e consequentemente a perder peso. Levei ao veterinário e o mesmo retirou sangue para fazer exame e medicou ele com novalgina por causa da frebre que era de 41°C. Ao sair o resultado do exame, percebeu-se que as plaquetas estavam baixas e como meu cão tem histórico com carrapatos, já iniciamos imediatamente o tratamento para Erliquiose (Doxiciclina) e Babesiose (Imizol), juntamente com vitaminas do complexo B. Após o término do tratamento, realizamos um novo exame de sangue e o hemograma estava normalizado (plaquetas, leucometria...), deu apenas alteração nas enzimas do fígado que após entrar com Mercepton foi regularizada a situação. Mesmo com a melhora no hemograma, foram encontradas hemácias com as bordas comidas. Ele não teve reinfecção da doença, ele teve carrapatos apenas duas vezes na vida, quando ele chegou em minha casa trazendo o corpo já cheio destes ácaros e aos 2 anos de idade quando pegou num passeio que a gente fez. Hoje ele tem 5 anos e de lá pra cá posso garantir que ele não teve mais carrapatos. Sendo assim, no exame continua encontrando hemácias danificadas, mas não encontra hemoparasita nenhum. Ele já tomou três dosagens de Imizol, 28 dias de doxiciplina, várias injeções com contisona, enrofloxacina e vitamina B12. Quando acaba o efeito do cotizona ele começa a parar de comer, fica triste e começa um ligeiro tique na região do pescoço, corisa. Foi então que o veterinário concluiu que ele não possui mais os parasitas no organismo, o problema é que progrediu para uma doença auto-imune, fazendo com que os anticorpos ataquem as próprias hemácias. Sendo assim, o veterinário entrou com outro tipo de cortizona que fica mais tempo no organismo com o intuito de reduzir a ação dos anticorpos sobre às hemácias, mas ele ficou bem um dia apenas, depois disso começou com os mesmos sintomas citados acima. Pelos exames de sangue o veterinário disse ter a certeza que ele não está com leucemia. Basicamente é isso, com cortizona ele fica bem, volta a comer e correr. Acabando o efeito ele fica mau novamente. Neste exato momento, faz 3 dias que ele está bem, correndo, brincando, porém com o apetite um pouco abaixo do normal. Estou desgastado, desde junho neste luta... Vocês tem alguma ideia do que mais pode ser, se estamos no caminho certo? Somente Deus sabe o que estamos passando nestes últimos meses, vendo a esperança ressurgir a cada pequena melhora e em seguida vê-la indo embora a cada recaída.
    Desde já agradeço a atenção de vocês.

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    1. Tudo bem pessoal? Bom, eu escrevi o post acima e como meu cão está apresentando melhora clínica e também está com o hemograma normalizado, gostaria de compartilhar com todos a experiência que estamos vivenciando, quem sabe isso possa ajudar de alguma forma. Após todas as medicações pertinentes ao tratamento para Erliquiose e Babésia, mesmo assim meu cão não apresentava uma melhora efetiva, de um dia para o outro já piorava, ficava sem comer, triste e voltava à estaca zero... Foi então que o veterinário tentou algo diferente, tentou tratar uma possível doença auto-imune, sequela da própria doença do carrapato na fase crônica. Já faz 15 dias que ele tomou uma dosagem intravenosa de prednisona e agora ele tomou outra e daqui uns 10 dias continuaremos o tratamento com prednisona mesmo, mas por via oral, reduzindo gradativamente conforme as orientações prescritas pelo veterinário. O intuito aqui é regularizar os efeitos dos antígenos sobre o próprio organismo, pois ele estava caminhando para um quadro de anemia hemolítica. Bom, parece estar dando tudo muito certo, pois o apetite dele está normalizando e a cada dia que passa ele melhora ainda mais. É isso pessoal, fica aí a dica, mesmo que seu animal esteja aos cuidados de um médico veterinário, se você perceber que não está respondendo ao tratamento como o esperado, pesquise, busque informações, sugira a ele(a) que converse com outros profissionais da área, pois isto poderá ser crucial para salvar a vida do seu animalzinho. Abraços e boa sorte a todos.

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  7. Oi Aline tudo bem?? Nossa estou com o mesmo problema que vc teve com seu cao e gostaria de saber se vc obteve resultado com este tratamento, pois não temos ctz e não sabemos mais o que fazer. Minha cachorra apresenta alta taxa de leucócitos e agora uma diminuição das plaquetas, e febre mto alta, estavamos achando que seria essa anemia que vc falou, pois já tratamos com corticóide, antibióticos e nada, o que pelo menos estabilizou ela foi antibiótico contra a erlichia e não me lembro agora o que mais. Aguardo anciosa sua resposta, pois já cansei dos meus veterinários. obrigada

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    1. Obtive sim! Caso seu animal nao esteja tendo resultado é sempre bom entrar em contato com o veterinário responsável e pedir revisao do tratamento.

      Att

      Aline de Souza

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